Os principais problemas na execução de fundações em estacas hélice contínua

Engº Fabrício Gonzalez Dias
Solidifica Fundações e Geotecnia

Neste artigo você ira descobrir os principais motivos de problemas da estaca hélice contínua na sua execução. Estes problemas citados aqui são reconhecidos por diversos escritórios de projetos e empresas de execução de fundações, sendo assim você entenderá os riscos de uma das principais estacas utilizadas no Brasil.

A metodologia da hélice contínua vem ganhando espaço na construção civil brasileira. Pelo fato de gerar baixas vibrações e pela sua produtividade alta, esse tipo de estaca teve um aumento significativo na disponibilidade de equipamentos desde a década de 1980, quando chegou ao Brasil. Porém, com esse aumento ampliou-se os problemas, muitas vezes por empresas de fundações sem o devido conhecimento e experiência, neste tipo de solução de fundações.

A NBR 6122 classifica este tipo de estaca como sendo de concreto moldada in loco. O processo é descrito como a introdução de uma haste helicoidal por rotação no terreno. Sua concretagem é feita através da própria haste simultaneamente a sua retirada. A armadura é inserida posteriormente a concretagem.


Entendido o processo construtivo vamos aos problemas.

PROBLEMA 1 – Desconfinamento do solo.

Alívio das tensões horizontais. Uma das principais características das estacas hélice contínua é manter o solo confinado na escavação, obtendo assim uma boa resistência lateral com a estaca finalizada. Alguns processos de escavação podem gerar alívio de tensões (quando muito solo é retirado na escavação), mudando assim as condições que foram consideradas em projeto.

O procedimento ideal é quando o volume de solo, que é levantado na escavação, é menor ou igual ao volume da haste inserida no procedimento. Para garantir isso, o avanço vertical da haste deve ser feita a uma velocidade do produto da velocidade de rotação pelo passo da hélice.


PROBLEMA 2 – Capacidade da perfuratriz.

Tudo que vendem como hélice contínua deve ser encarado como tal?

 A pergunta já contém a resposta. Algumas empresas de fundações vendem o procedimento de hélice contínua com equipamentos sem capacidade de toque ou haste curta. Criando assim estacas que possuem resistências inferiores a projetada.
Mas o que a falta de torque pode influenciar no desempenho da estaca? Ao chegar a certa profundidade (não a cota final de projeto) e o equipamento “trava” e é muito comum o operador finalizar a escavação ou então efetuar o giro contrário da escavação, causando o desconfinamento do solo. Esse desconfinamento, como dito no item anterior, diminui consideravelmente a resistência lateral da estaca.
 
Quando acontece esse tipo de problema, essas estacas devem ser encaradas como estacas escavadas mecanicamente, mudando seus parâmetros de dimensionamento de projeto.
 

PROBLEMA 3 – Concretagem

Você sabe por que estacas escavadas deve ter a resistência de ponta minorada?

Ao finalizar a escavação da estaca é muito difícil garantir que não fique nenhum material solto no fundo, dessa forma, por norma, estacas escavadas tem sua resistência de ponta a um valor restrito. Nas estacas hélice contínua não é diferente.

Para iniciar a concretagem da estaca hélice o operador deve levantar a haste a uma altura suficiente para permitir a saída do concreto. Acontece que as vezes essa altura é excessiva, resultando em estacas sem resistência de ponta.

Outro ponto na parte da concretagem é a utilização de alta pressão de bombeamento, que pode gerar melhoramento na capacidade de carga, em que a haste sobe somente com essa pressão. Porém, como esta prática eleva o consumo de concreto, acaba não sendo utilizada em obras de menor responsabilidade. Dessa forma, deve ser verificado sempre o volume real (volume de concreto inserido) com o teórico (furo realizado) percebendo situações de divergência ainda em tempo de correção*.

*Como são utilizadas pressões baixas, em algumas situações, pode ocorrer o estrangulamento da estaca, gerando problemas de resistência. Outra questão é o custo de mobilização do equipamento, se o problema for resolvido (uma nova estaca ser executada, por exemplo) ainda com o equipamento em obra fica mais fácil e barato do que ter que pagar uma nova mobilização (problema percebido tardiamente, quando o equipamento já saiu da obra).



PROBLEMA 4 – Procedimento Hélice Contínua Modificada

Você ja ouviu falar sobre o procedimento “hélice contínua modificada”? Então, para quem não conhece o processo funciona com a escavação da estaca, retirada do trado, colocação da armadura e concretagem no final. Geralmente é utilizada quando a armadura possui grande dimensão e há dificuldade em ser inserida. Esse processo NÃO deve ser considerado como hélice contínua, o motivo você já entende a partir da leitura dos itens anteriores.

PROBLEMA 5 – Concreto 

Só a resistência é suficiente para garantir o bom desempenho da estaca? Bom, para as estacas hélice contínua a resistência mínima do concreto deve ser de 20 MPa, mas só isso não é suficiente.
Como o concreto utilizado nesse tipo de estaca é sempre bombeado, este tem uma característica mais plástica, que por consequência tem uma quantidade de água maior.

Por esse motivo a quantidade mínima de cimento neste tipo de estaca deve ser de 400 kg/m³ (estipulado pela NBR 6122) com um Slump de 23 +/- 2 cm. Um concreto pobre em cimento, ou com o fator água/cimento alto, pode ter problemas de alta porosidade e perda de resistência (a curva de Duff Abrams indica claramente essa situação).A inadequação da granulometria é outro fator que pode causar problemas no concreto deste tipo de estaca.

De qualquer forma, por meio de ensaios químicos, é possível realizar a reconstituição de traço de concreto endurecido, podendo assim servir como artifício para eliminar dúvidas.



Além de todos os motivos já citados como problemas que podem acontecer em estacas hélice contínua:

PROBLEMA 6 – Descontinuidade causada pela velocidade excessiva da subida do trado (não gerando a pressão necessária ou até causando pressão negativa).

PROBLEMA 7 – Colocação da armadura de forma inadequada (forçando a sua inserção), por conta do Slump baixo ou início da pega do concreto, ocorre a dificuldade na inserção da armadura. Algumas situações foram verificadas da armadura “escapar” e entrar no solo, por esse motivo não recomendamos a utilização de equipamentos para forçar a entrada do aço.



Apesar de termos falado apenas dos problemas das estacas neste artigo, elas são ótimas soluções de fundações profundas e, com a tecnologia avançando cada vez mais, estão cada vez mais confiáveis.

Este artigo teve o intuito de ajudar a desenvolver seu espírito crítico e melhorar o desempenho das obras do Brasil de alguma forma.
A partir de qualquer dúvida quanto ao desempenho da estaca, você pode requirir ensaios de integridade ou prova de carga, verificando as condições de projeto e de obra.
Caso tenha dúvidas sobre o assunto clique aqui e leia sobre a verificação da qualidade das estacas moldadas in loco. 

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