Investigação Geotécnica Para Quê ?

A geotecnia é uma ciência que necessita de observação. Antes e depois de programada a campanha de investigação é fundamental que a observação seja quase uma obsessão. É sempre bom lembrar os ensinamentos contidos no método observacional proposto por Peck (1969) que destaca que a investigação é fundamental, juntamente com o estabelecimento das condições mais prováveis e mais desfavoráveis (a condição mais desfavorável é o que tem levado a análise sob a ótica dos solos saturados. O clima tem papel fundamental neste aspecto).

O geotécnico deve escolher aqueles parâmetros que deverão ser monitorados durante a construção e vida útil da obra (lembrando-se que a variação sazonal dos parâmetros é de fundamental importância para a estabilidade de taludes). A investigação deve servir de base para que se tenha sempre em mente uma alternativa que responda às observações feitas por meio da monitoração da obra. Lembrando que projetos de taludes quase nunca podem ser feitos com o sistema “design as you go”.

Diversos são os fatores que influenciam a escolha dos métodos de investigação, são eles:
1. Natureza dos materiais de subsuperfície.
2. Condição do lençol de água.
3. Tipo de obra a ser construída ou investigada.
4. Complexidade da área.
5. Topografia local.
6. Grau de perturbação de cada método investigativo.
7. Tempo.
8. Aspectos geo-ambientais.
9. Limitações de orçamento.
10. Aspectos políticos.

Em geral os dois últimos itens são responsabilizados pela redução das investigações. O código Europeu apresenta uma estrutura que vincula a obtenção de parâmetros ao seu uso nos projetos. Na Figura 1 está apresentada a estrutura contida no prEN 1997-2 (2003).


Figura 1: Estrutura geral para seleção de parâmetros geotécnicos para projeto. Fonte: Marinho, F. A. M (2005).

Por que investigar ?
A falta de investigação geotécnica ou a má interpretação de dados, resulta em: projetos inadequados, atrasos na obra, aumento de custos por modificações de última hora e remediação, problemas ambientais e até mesmo a ruptura da obra. A investigação geotécnica além de minimizar os riscos e custos, é uma forma de demonstrar responsabilidade para com a sociedade e respeito à natureza. Deve-se saber que os resultados e análises das investigações geotécnicas são documentos de projeto.

A quem interessa a investigação geotécnica ?
Definir a quem interessa a investigação geotécnica é fundamental para podermos responder as seguintes perguntas:
• O que é uma investigação geotécnica adequada ?
• Como saber qual a melhor investigação a ser feita ?
• Qual investigação nos fornecerá parâmetros para o projeto ?
Projetar conhecendo-se os aspectos geológico-geotécnicos é a melhor forma de fazer engenharia. Devemos trabalhar para resolver os problemas previstos e evitar trabalhar para resolver os problemas ocorridos. Investigar interessa a sociedade, ao poder público, e ao engenheiro geotécnico.

Parâmetros
A investigação geotécnica além de permitir a identificação de características geométricas e estruturais que podem condicionar determinadas soluções, ela pode fornecer parâmetros para projeto e análises. Estes parâmetros podem ser classificados em três grupos, quais sejam: resistência, deformabilidade e fluxo. Com a proliferação de programas computacionais a ferramenta da análise paramétrica tem se tornado muitas vezes um substituto de uma investigação adequada. Muitas vezes o próprio programa apresenta sugestões de parâmetros. Na grande maioria dos casos as particularidades dos solos das diversas regiões do Brasil não são consideradas.

Geomorfologia e Estratigrafia
A análise de estabilidade de taludes tem, cada vez mais, integrado os estudos geomorfológicos e estratigráficos, com ferramentas de sistemas de informações geográficas (GIS). A incorporação a estes sistemas de modelos baseados em processos físicos tem contribuído para o aperfeiçoamento do GIS.

Guimarães et. al (2003) destacam que um aspecto fundamental no uso de modelos que tomam como base os processos físicos (e.g. hidrológico e de estabilidade de taludes), é a parametrização das propriedades do solo obtidas em investigações prévias. Os autores chamam atenção de que o potencial da combinação GIS-modelos está na possibilidade de incorporar a variabilidade espacial de parâmetros topográficos, tais como declividade, forma da encosta, entre outros. O fator escala é crucial nestes estudos.

Dietrich et. al (1998) apresenta um estudo onde o GIS é usado associado à análise de estabilidade. No Brasil estes recursos vêm sendo cada vez mais utilizados, embora sempre restritos ao meio acadêmico. Deve-se ter em mente que o uso de ferramentas como o GIS obriga a uma criteriosa análise dos parâmetros disponíveis e ao uso responsável dos mesmos na representação da geomorfologia da região estudada. A estratigrafia é fundamental para definição dos estratos ou camadas que estão presentes na região a ser estudada. A obtenção da estratigrafia é talvez a ferramenta mais comum que o geotécnico dispõe para programar maiores investigações.

As formas mais comuns no Brasil de se obter a estratigrafia é utilizando SPT ou CPT. No entanto, pode-se fazer uso de outras técnicas que em determinadas situações podem fornecer mais informações. O GPR (Ground Penetrating Radar) é uma destas técnicas e pode ser usada tanto como de superfície como por procedimento de “cross hole”.

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Referências:
Investigação Geotécnica Para Quê ? Marinho, F. A. M. Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil, fmarinho@usp.br. 2005

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